Por mais fatores que existam e corroborem para um pensamento resignado de que, sofrer faz parte da vida, eu jamais vou me acostumar a algo que parece grande demais para caber dentro de mim. “Quantos infortúnios mesquinhos nos oprime supremo!”, Lapida este meu pensamento, Fernando Pessoa. Não importa o tamanho da dor, se é nossa, é suficiente para tirar o brilho do sorriso. Sofrer faz parte da vida, mas nunca vamos nos acostumar a isso, e por isso vivemos numa infinita fuga do sofrimento. Isto sim, é real.
É certo que o sofrimento produz em nós certa maturidade. Às vezes chego acreditar que só amadurecemos de verdade sofrendo. “O homem que a dor não educou será sempre uma criança” (N.Tommaseo). Mas não quer dizer que cultivamos sofrimentos para amadurecer, se pudéssemos, passaríamos pela a vida sem nenhum vestígio de dor. Até provocamos nossas desventuras, e, diga-se de passagem, acidentais, porém o que elas produzem, antes da maturidade, é um sentimento de indignação consigo mesmo alimentando inclusive, a utopia de voltar no tempo e percorrer novos caminhos evitando as amarguras “propulsoras” para o tão necessário amadurecimento.
As escolhas estão sempre voltadas para o não sofrer, seja em que âmbito for. As agruras sofridas por outrem é “café pequeno” perto da nossa. Sofremos com a angústia alheia, mas a nossa é sempre nossa. É o sapato apertando nossos pés. Só nós sabemos o quanto importuna a sensação de que os órgãos cresceram além das extremidades do corpo, mesmo que os motivos sejam irrelevantes para os outros. Por isso não importa a gravidade do que fizemos, o que fizeram conosco é sempre mais cruel, como bem descreveu Mario Quintana: “A nós nos bastem nossos próprios ais,Que a ninguém sua cruz é pequenina.Por pior que seja a situação da China,Os nossos calos doem muito mais...”
A vida nos impõe algumas dores em que não nos resta nada a fazer além de suportar. E continuar, é antes de tudo, o afloramento da esperança de que virão dias melhores mesmo contrariando a lógica de que sofrer faz parte da vida. Porque se aceitamos que são naturais as aflições do decorrer da vida, implica, nas entrelinhas, que não virão tempos melhores, não nesta vida.
Ratifica nossa aversão ao sofrimento o quanto nos voltamos para os momentos infelizes, visto que, um mês inteiro de alegria não alivia uma hora de dor. Do contrário, o primeiro sinal de angústia, já é suficientemente grande para anular e amarelar todos os sorrisos de um mês inteiro.
Não vamos deixar de sofrer, essa é uma dura certeza, mas não nos sentimos mais confortáveis por saber disso. O que queremos, mesmo sabendo que não vamos conseguir, é uma solução para o problema do sofrimento. E há nisso uma espécie de refutação ao coro dos resignados. Concluo acreditando que essa resignação é mais hipócrita que verdadeira, é uma busca por alívio, não um sentimento de que “está tudo bem, vai passar!”.
“... Rolam lágrimas como torrentes
E por vezes nem isso eu tenho
E querendo chorar eu detenho:
A agonia e a dor tão latentes.
Peço mais do que incessantemente
Solução para Deus, para o mundo;
Porém quanto mais peço mais fundo
Regride-se, piora minha mente.”
( Rosely T. Sales)
Alisson S. Araújo
sábado, 1 de setembro de 2007
Não me acostumo
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