A minha tristeza se acumula em muitas camadas. Mataram meus heróis infantis; sinto que me arrastam para um cinema escuro, obrigado a ver o filme de terror. Poluiram minha pequenina e frágil fonte de onde ainda poderia surgir uma pobre poesia. Estou des-feliz, des-estimulado, des-iludido, des-encantado. Minha tristeza dói como o palito que fere o dente exposto; parece o latejar da enxaqueca. Portanto, ela não é grande, mas tortura com paciência. Minha tristeza, entrentanto, ainda não tem força de me fazer desistir e nem pode atrair as trevas da covardia. Estou abatido, mas não amargurado; cansado, mas não cínico; aviltado, mas não vingativo. De dentro de meu exílio, desejo a paz do menino que já fui e que descansava no seio da mamãe, procuro o olhar terno de meu pai morto que poderia, nesta hora me dizer: "Coragem, filho"!.Procuro por ti, Deus. Como Davi, rogo: - Não te escondas de mim. Dai-me uma brisa menos umedecida pelo suor da suspeita. Peço-te, tão somente, a prometida presença do Espírito que recompõe os joelhos desconjuntados e pode erguer meus braços fadigados. Resta-me consagrar meu sofrer a Ti, Cordeiro de Deus, que conheces o inferno da angústia. Ao teu lado, sei que renascerei desses escombros para poder ajudar outros, também asfixiados pelo cheiro de enxofre. Preserva meu coração compassivo e doce. Amém. Soli Deo Gloria.
O Amor Demônio
“Continuo pensando que se tudo o que entendemos por amor é a ânsia de sermos amados, nossa condição é deplorável. Uma exigência tirânica e gulosa de afeição é às vezes algo terrível. “o amor deixa de ser um demônio somente quando cessa de ser um deus”; cuja sentença pode naturalmente ser apresentada de outra forma: “começa a ser um demônio no momento em que começa a ser um deus”.Todo amor humano, em seu apogeu, possui a tendência de reivindicar uma autoridade divina. Sua voz tende a soar como se fosse a vontade do próprio Deus. Ela nos diz para não contar o custo, exige de nós um compromisso total, tenta superar todas as outras reivindicações e insinua que todo ato feito sinceramente “por causa do amor” é portanto legal e até meritório. Que o amor erótico e o amor patriótico tentam dessa forma “tornar-se deuses” é geralmente reconhecidoPois os amores naturais, quando lhes é permitido que se tornem deuses, não permanecem amores. Continuam recebendo esse nome, mas se transformam na verdade em formas complicadas de ódio.“Fragmentos do livro “Os Quatro Amores” de C.S Lews
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